Terapia do Silencio

Quando iniciei minhas práticas de meditação tinha dificuldade em entender qual seria a graça de viver neste tão falado caminho do meio, segundo os budistas a chave para o fim dos sofrimentos.

Minha vida até então era cheia de emoções vibrantes com muito “Sexo, Drogas e Rock’n Roll “. Cada final de semana era uma história diferente, emocionante, que me alimentava, que me fazia me sentir mais vivo, me sentir “o cara”.

Ao mesmo tempo em que vibrava com as mulheres que conquistava, com as histórias engraçadíssimas que eu presenciava com meus amigos, as segundas-feiras eram o início de um grande sofrimento interno. Era como se eu tivesse que esperar uma semana inteira sem alegrias para que pudesse, só na sexta, iniciar o meu ciclo de prazeres novamente, o meu grande vício.

De repente me vi em contato com a meditação. Meu deus, será que neste caminho do meio minha vida vai ficar monótona, vou perder todos estes meus prazeres?

O fato é que decidi me dedicar e apurar a fundo este meu “eu” até então desconhecido.

Apesar de eu parecer para os outros uma pessoa super extrovertida e alegre, buscar este novo caminho era uma forma de tentar transformar algo maior que sobrepunha aquela minha euforia momentânea.

Hoje, após muitos anos de prática, posso responder as minhas próprias perguntas.

Meu deus, será que se eu me entregar a esta prática, a este caminho do meio, minha vida vai ficar monótona, vou perder todos estes meus prazeres?

Resposta: vai mudar, os prazeres serão outros, serão preciosos. A forma de se relacionar com os acontecimentos da vida se altera, passamos a dar ênfase ao que importa, ao que enriquece, ao que nos transforma em direção a consciência. Aprendemos a desfrutar do simples e se esbaldar de satisfação com o pouco, que não é pouco, mas na perspectiva anterior parecia.

E como se procede esta transformação?

Ao nos identificarmos com os nossos desejos, naturalmente iremos nos identificar com os nossos sofrimentos. O ponto está no condicionamento de identificação. Para deixarmos de sofrer, temos que transmutar este padrão do cérebro através da observação e aceitação do que de fato é real, sem a interferência da nossa mente que julga (o ego). Quando nos colocamos neste ponto de equilíbrio, não importa para onde a mente nos leve, temos a capacidade de manter a serenidade e a paz em qualquer situação, para aí sim tomarmos as decisões que vão de encontro ao nosso real propósito, o de despertar.

O fato é que, no estado de consciência, reconhecemos nossa liberdade para experimentar a vida, sem amarras, sem medos. “Sexo, Drogas e Rock’n Roll” podem sim, ser parte importante do caminho, e no meu caso foi. Liberte-se das culpas e viva o seu presente consciente. Ao nos afastarmos das ilusões não temos o que temer, nossas escolhas serão sempre em direção a harmonia, a paz e a felicidade.

Fotos: Daniel Wirtz e Jennifer Tee